Entrevistados no podcast Três por Quatro, do Brasil de Fato, os economistas Juliane Furno, professora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), e João Prates Romero, professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), analisaram o novo pacote econômico apresentado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Ambos destacaram o esforço do ministro em dialogar com a sociedade e enfrentar a resistência de setores conservadores do Congresso Nacional.
Segundo Romero, o ime com parlamentares não é exatamente o corte de gastos, mas quais gastos são cortados. “Haddad já vem buscando [cortar] diversos gastos. Esse corte de gastos tributários, nos benefícios de isenção de imposto de renda para quem investe nesses títulos, é mais um exemplo disso. Só que esse gasto o Congresso não quer cortar”, aponta. O economista lembra ainda que a tentativa de eliminar a desoneração da folha de pagamentos também foi barrada por interesses setoriais. “Em geral, quando se fala em corte de gastos, é voltado para gastos sociais”, explica.
Para Juliane Furno, a estratégia do governo de lançar uma proposta forte e, em seguida, apresentar uma versão mais negociada pode ter sido uma manobra acertada. “A proposta nova é mais progressiva, mais ousada, no sentido de não só manter o potencial de arrecadação, mas também de fazer uma ação discricionária a partir de alguns setores, como bets e as letras de crédito”, destaca. Ela considera que o ministro Haddad, mesmo não tendo um perfil popular, tem conseguido manter o debate público em evidência.
Capital tem ‘padrão duplo’ para análises
Ao tratar da tributação sobre o agronegócio e o setor imobiliário, Romero denuncia a inconsistência do discurso dos setores privilegiados. “É interessante esse padrão duplo que é utilizado para análises diferentes. O governo não pode utilizar o BNDES [Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social] para fazer política industrial […]. Mas na hora do agro e do setor imobiliário, não tem mais essa questão.”
Ambos os economistas destacam também o mérito do governo em apresentar alternativas ao corte de gastos sociais, como enfrentar temas sensíveis tais quais os supersalários e as aposentadorias militares.
Congresso desidrata proposta
Apesar do mérito do debate público, Furno demonstra preocupação com os limites impostos pela correlação de forças no Congresso. “A chance do pacote nascer no Congresso já morto é grande”, diz. Para a economista, “os acordos estão muito frágeis” e a promessa de apoio feita por figuras como o presidente da Câmara, Hugo Motta, não tem se concretizado. “Estamos perdendo um pouco a conexão de como funcionam as nossas instâncias”, analisa.
Ainda assim, ela acredita que a ofensiva do governo é pedagógica. “Mesmo analisando que a correlação de forças é ruim, o importante é apresentar para a sociedade, no debate público, que quem desidrata a própria proposta é o Congresso e não o governo.”
O videocast Três Por Quatro vai ao ar toda quinta-feira, às 11h ao vivo no YouTube e nas principais plataformas de podcasts, como o Spotify.