O projeto Nova Raposo, que propõe a ampliação da rodovia Raposo Tavares e instalação de pedágios na Grande São Paulo, está sendo amplamente criticado por ambientalistas e moradores da região. Para o geógrafo Wagner Ribeiro, professor da pós-graduação em Ciência Ambiental da Universidade de São Paulo (USP), trata-se de um “projeto absolutamente incompatível com o século 21”.
Em entrevista ao Conexão BdF, da Rádio Brasil de Fato, Ribeiro alerta que a proposta vai muito além da duplicação da Raposo: inclui a interligação com outras vias como a Castelo Branco e a BR-116, cortando áreas de Mata Atlântica preservada e regiões de mananciais que abastecem a capital paulista. “É inissível que, nessa altura do campeonato, tenhamos propostas dessa ordem. Só por isso, essa expansão já seria um absurdo”, afirma.
Segundo o professor, os impactos ambientais e sociais são extensos: desapropriações, destruição de habitats, fragmentação da fauna e poluição dos cursos de água. “Esse projeto atravessa diversas nascentes e quase uma centena de cursos d’água. Qualquer curso d’água que temos nessa área metropolitana tem que ser preservado e recuperado, regenerado, inclusive”, destaca.
O projeto da Nova Raposo faz parte de um plano do governo de São Paulo para entregar 1.800 quilômetros de rodovias à iniciativa privada. A ideia é ar para empresas a responsabilidade por cuidar e operar essas estradas, por meio de concessões. Nesse pacote, estão incluídas três rodovias (SP-280, SP-270 e SP-029) e um trecho que liga Cotia a Embu das Artes, paralelo ao Rodoanel Oeste. Hoje, essas vias são controladas por órgãos da gestão estadual.
Na contramão do mundo
Ribeiro também critica a lógica rodoviarista do projeto, especialmente em um momento em que cidades do mundo inteiro buscam alternativas sustentáveis de transporte. “Estamos apostando justamente no contrário, que é incrementar o chamado transporte ativo, de bicicleta, e também o transporte coletivo, especialmente sobre trilhos”, explica. Ele lembra que já existe uma linha de metrô planejada para a região e propõe o uso de ônibus elétricos e faixas exclusivas, como já é feito em outras cidades brasileiras.
Além disso, o professor questiona a validade das compensações ambientais propostas por empreendimentos desse porte. “Onde você repõe essas plantas? Em outro lugar? Nós vamos ter com isso uma perda da qualidade de vida porque é evidente que, reduzindo a mata, tem diminuição da qualidade do ar e agravamento da chamada ilha de calor urbana”, contesta.
O movimento “Nova Raposo, Não!” tem agido contra o projeto, em prol do transporte público e da escuta da comunidade. O Conexão BdF levou perguntas dos integrantes para a entrevista com o geógrafo e ambientalista Wagner Ribeiro. Para ele, o único caminho para barrar a Nova Raposo é a mobilização popular. “Esse projeto tem que ser abandonado o quanto antes. Só com pressão da sociedade civil nós vamos poder conter isso”, defende.
Para ouvir e assistir
O jornal Conexão BdF vai ao ar em duas edições, de segunda a sexta-feira, uma às 9h e outra às 17h, na Rádio Brasil de Fato, 98.9 FM na Grande São Paulo, com transmissão simultânea também pelo YouTube do Brasil de Fato.